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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Educação em Inovação: Os alunos da escola do século XXI

Educação em Inovação: Os alunos da escola do século XXI: Os alunos de hoje – da creche à graduação – nasceram e cresceram em ambiente digital.

Educacao inovacao sinpson
Os alunos de hoje – da creche à graduação – nasceram e cresceram em
ambiente digital. É o que o pensador americano Marc Prensky chama de
nativos digitais. Em certa medida, todos os países têm enfrentado alguma
dificuldade na maneira de a escola (e de o mercado de trabalho) se
relacionar com a nova geração.
Isso porque referidos alunos têm algumas características em comum que
não são as correntes nas salas de aula: preferem o visual ao textual,
preferem o aleatório ao sequencial, muitos trechos curtos a um longo,
fazem múltiplas tarefas simultaneamente, precisam de recompensas
rápidas, não aceitam com facilidade autoridades e críticas, querem se
expressar, gostam de construir redes de contato. Enfim, muito do que se
ouve dos problemas escolares está relacionado com a concepção de nosso
sistema educacional, pensado para um tipo de aluno que não é o que está
atualmente nos bancos escolares.
Há, explicitamente, uma descontinuidade entre eles e seus professores. A
ideia de Prensky é especialmente feliz em mostrar isto: a geração atual
é nativa digital, nasceu fluente nessa linguagem; seus professores são
imigrantes digitais, com todas as dificuldades que um imigrante tem para
se adaptar a outra língua e cultura.
É fácil perceber nosso “sotaque” nessa língua. Eu prefiro digitar num
teclado (e só com o indicador!) a ficar arrastando meu dedo numa tela de
celular ou tablet, algo que me dá uma preguiça enorme. E ler, então?
Quantos não somos os que preferem imprimir um texto a ficar rolando-o
para baixo numa tela (ou, pior, pedimos para outra pessoa imprimir para a
gente). Quantos não preferem ligar a trocar mensagens no whatsapp ou
facebook? Isso é o sotaque! E vai além, é provável que a linguagem e a
forma de se estruturar os pensamentos estejam intrinsicamente ligados.
Se telefonar já não é a primeira opção (nem a segunda, nem a terceira…)
de um nativo digital, ligar para avisar que mandou um e-mail é um
raciocínio completamente sem sentido que nunca passaria pela cabeça
dele.
É disso que se trata o desafio da escola nesse início do século XXI.
Como ensinar alunos que têm formas de raciocinar, valorar e agir tão
diferentes de seus professores? É comum que professores achem que não é
possível se aprender com músicas, filmes ou com o celular – que carrega
mais livros e informações do que as bibliotecas e salas de aula de todas
as escolas da cidade juntas. É natural, eles nunca praticaram a
aprendizagem dessa forma, então lhes é difícil conceber que outros
possam aprender assim; assim como acreditam que a aprendizagem deve
seguir uma estrutura semimilitar e, claro, não pode ser divertida.
Uma solução proposta por Prensky está relacionada com a gamificação –
uma maneira de professores se comunicarem na língua e estilo dos alunos.
A gamificação é uma forma de incorporar a qualquer processo, incluindo a
educação, elementos dos jogos. Se games são interessantes para os
jovens, o que é possível aprender com eles para deixar a escola também
interessante?
Esse é um ponto ao qual quero voltar num post futuro, mas, para este
momento, pense que isso significa ficar falando não por 10, 20 ou 30
minutos, mas por 3 minutos – e 30 segundos, então, é muito melhor! Não é
estruturar um conteúdo vagarosamente passo a passo, culminando numa
avaliação, mas deixar o acesso aleatório, rápido e com feedback
imediato. E, nada de “objetivos de aprendizagem”, instruções escritas
detalhadas e pedagógicas. É preciso trocar, para o aluno, a linguagem
com traços de educação para a linguagem com traços de diversão sempre
que possível (um tópico importante também para pensar o livro didático
dessa escola).
Contudo, isoladamente, uma nova metodologia não garante que a escola
estará mais bem preparada para os desafios do século XXI. Outra questão é
que ela ensina um conjunto de saberes que já não têm mais a adesão da
nova geração. Esse é um processo comum da escola, aprender latim e grego
já foi muito mais relevante, mas chegou um momento que saiu do
currículo escolar. E é difícil fazer o aluno de hoje ver sentido em
aprender a diferenciar mórula, blástula e gástrula.
O sociólogo suíço Philippe Perrenoud é um dos que aponta para as
tradições escolares e as lacunas e descolamentos da realidade estudantil
que elas provocam. Uma de suas ideias é que a escola precisa diminuir
seus currículos tradicionais e incorporar outros elementos,
especialmente das áreas da psicologia, das ciências sociais, da economia
e do direito.
Faz todo o sentido. A vida humana está cada vez mais longa e
multifacetada. E ninguém nos prepara para enfrentar crises e sofrimentos
como a perda de um emprego, o divórcio ou uma doença na família. Ou a
lidar com a angústia, o ciúme e a sensação de insegurança. O que
aprendemos na escola sobre sistemas de ação coletiva, da família e do
círculo de amigos a organizações profissionais e políticas? Quem nos
ensina quando um leasing, uma hipoteca ou um empréstimo no cheque
especial vale a pena? Como se planeja a aposentadoria ou se entende o
noticiário a respeito de inflação e balança comercial? Se eu como
consumidor me sinto lesado, que direitos eu tenho, como posso
reclamá-los, que ações posso tomar? Quais são os direitos trabalhistas?
Como e por que se paga um imposto? Como se aciona um seguro? Como se
chama um bombeiro? Como se abre uma empresa?
Assim como Perrenoud, também acredito que essas são perguntas muito mais
importantes de serem feitas na escola do que, por exemplo, quais são as
características de um movimento harmônico simples. E, provavelmente,
elas estariam muito mais próximas do que os estudantes precisam e
querem. 
Para mim, é muito claro que o problema não é que os alunos estejam menos
aptos a aprender ou a prestar atenção. Eles memorizam nomes e
características de mais de cem personagens do Pokémon (e esse exemplo
também denuncia o sotaque digital do Prensky e o meu), por que não
memorizariam os nomes e capitais de cem países? Não que eu ache que essa
“memorização geográfica” tenha utilidade, mas não é esse o ponto, é que
eles têm essa incrível capacidade e não sabemos como usá-la. Eles dão
atenção a dezenas de tarefas simultâneas, é claro que conseguem prestar
atenção, só não têm a mínima vontade de prestar atenção na aula – e acho
que eles são os menos errados da história…



Veja também



O livro didático e a escola do século XXI


Educacao em Inovacao escola
Alysson Ramos Artuso



Professor e pesquisador da área de educação e livros didáticos.
Formado em Física, mestre em Educação e doutor em Métodos Numéricos,
participou de diversos cursos de extensão, incluindo o Designing a New
Learning Environment da Universidade de Stanford. Já escreveu dezenas de
livros didáticos e editou ou organizou mais de uma centena deles.
www.ieasolucoes.com




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